Janaúba não é um lugar qualquer perdido no norte-mineiro. Pelo contrário, com 68 anos de emancipação política, dedica-se à agricultura, à pecuária, ao comércio e serviços, com seus dedicam mais de 71 mil habitantes, a 52ª população do Estado. O burgo nasceu a partir do final do século XVIII, quando bandeirantes voltavam do Nordeste, conduzindo índios preados para a região, como relata Dário Teixeira Cotrim. A temperatura, como em toda região, é de semiárido brasileiro e da microrregião, de que Janaúba é polo. 

Terra de gente trabalhadora, conta com infraestrutura de cidade de porte médio, com hospital regional e dispõe de pontos turísticos, ostentando o título de principal centro comercial da Serra Geral. Note-se: desde 1984, possui um campus da Universidade Estadual de Minas Gerais, estando em implantação uma unidade da primeira universidade federal da Serra Geral e a segunda do Norte de Minas. 

No entanto, nesta primeira semana de outubro, Janaúba se tornou dramático assunto da imprensa internacional. O vigia, de 50 anos, de uma creche, o Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, afastado das funções por motivo de saúde, ateou fogo pela manhã no acolhimento, em que se encontravam dezenas de crianças entre quatro e seis anos. Quatro delas morreram, além de uma professora.

O teto da escolinha era de material plástico e ajudou a propagar as chamas. Os feridos foram levados para a Santa Casa de Montes Claros e para o Hospital João XXIII, em helicópteros.

Um oficial da PM declarou que o homem entrara em um tambor de gasolina ou álcool e, tomados o corpo e as roupas pelo fogo, abraçava as pessoas que deparava no caminho fatal.

O governador Fernando Pimentel determinou mobilização de todas as forças de saúde pública e de segurança para resgate e salvamento. O presidente Temer, de Belém, PA, expressou sua dor como pai e solidariedade às famílias. Jornais de vários continentes imediatamente divulgaram. Uma notícia, que eu, que sou de Montes Claros, e a jornalista Mônica Miranda, da Itatiaia, nascida naquela cidade, no mesmo dia que eu, 13 de março, não gostaríamos de dar.

Neste momento em que o Brasil enfrenta vicissitudes de toda natureza, um fato como este acrescenta dor e lágrimas à sociedade, ainda que a jovem cidade esteja a centenas de quilômetros dos grandes centros urbanos. A adversidade não se mede pela distância e pelo conhecimento pessoal.
Ademais, são crianças, algumas das quais estigmatizadas fisicamente a partir de agora pelos ferimentos. Nem se fala dos pais e demais membros das famílias.

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.