Neste ano, Belo Horizonte comemora 120 anos como sede do governo estadual. É data para se comemorar, evidentemente. Mas também vale enfatizar que, em 2018, se registrará o 70º aniversário de conclusão das obras do Edifício Acaiaca, o mais significativo empreendimento imobiliário particular e da indústria da construção civil na avenida Afonso Pena, no coração da cidade de Aarão Reis.  

Dos velhos tempos, pouco resta e o que resta não tem a grandeza e a importância do Acaiaca, cuja história Antônio Rocha Miranda descreve em “Edifício Acaiaca – O colosso humano e o concreto”. Sua primeira edição é contemplada com trechos extraídos de reportagens de nossa imprensa diária e dos novos meios de comunicação. 

Bom que se diga: O autor da publicação integra a dinâmica administração do grande centro de negócios e convivência na principal via pública de Belo Horizonte. Assim, está em permanente contato com sua vida, seus problemas, seus desafios, que certamente não faltariam em um complexo pelo qual passam diariamente mais de dez mil pessoas.  

Tudo ali é portentoso, gigantesco, desde a ideia inicial da construção pelo empresário Redelvim Andrade, um cidadão nascido em Mendanha, distrito de Diamantina. Ele estudou farmácia como Carlos Drummond de Andrade, mas, na segunda grande guerra, já era conhecido como exportador de 1/3 da produção brasileira de cristal, essencial matéria-prima para a guerra contra o Eixo.  

Fez bem Antônio da Rocha Miranda ao pesquisar sobre o Acaiaca e elaborar o seu minucioso estudo. Não simplesmente, por se tratar de um símbolo da Art Déco, tão representada na terceira capital dos mineiros. De fato, Belo Horizonte foi concebida para ser moderna, portanto cumpria renovar sua linguagem em sintonia com os novos ventos que vinham das cortes europeias, como sublinhou Flávio Carsalade, que entende profundamente do assunto. 

Com JK e após ele, Belo Horizonte não era, óbvio, mais a mesma da época da construção. O moderno preconizado pelo déco, precisava ser atualizado com a abolição de ornamentos. Sua direção seria para uma arquitetura mais racional, consoante o pragmatismo da era industrial. O modernismo não poderia faltar em uma cidade que se gabava de moderna. Assim, foi o projeto do edifício, que se deveu à competência do arquiteto Luiz Pinto Coelho, genro do empresário Redelvim.  

Mineiro de Peçanha, empreendedor nato como o próprio coestaduano, este filho de Mendanha, Antônio Rocha Miranda nos revela a grandeza do edifício, a ousadia de seu construtor, o “rei dos cristais”, evocando a significação do complexo em frente à Igreja São José, local que abrigara a antiga Igreja Metodista, em cujo terreno foi erguido.  

Há muita história. No Acaiaca, em seus 29 andares, estabeleceram-se importantes empresas mineiras, a primeira televisão do Estado, uma decantada boate, a sede de várias entidades, como a Fundação Mendes Pimentel, as Faculdades de Filosofia e Letras da UFMG. Lá se reuniram mineiros de prestígio para se contraporem ao governo de João Goulart, lá os revolucionários de 1964 se manifestaram publicamente. Lá se encontra a sede da Fundação Logosófica – Um Portal da Superação Humana e o antigo cinema que recebeu o nome do edifício, que dispunha dos mais velozes elevadores de toda a capital, excitando as crianças que o visitavam. 

Para conhecer-se mais, tem-se de recorrer mesmo ao livro, que exibe que a escultura do frontispício e que de longe se admira, modificada pelo próprio escultor, Luiz Pinto Coelho. Ele vira na versão original apenas uma figura de gangster americano furioso.  

 

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.