Os dinossauros sempre me deslumbraram. Seja  pelo tamanho, pela ferocidade de um tiranossauro rex,  de um megalossauro ou de um tricerátopo ( de três chifres), seja pelo jeitão silvestre e  pacífico  dos herbívoros de pescoço comprido, comedores de folhas de árvores, como  o braquiossauro,  o astrodon e outros.

Caçadores noturnos, atacantes rápidos, eram o velocirráptor, o dromessauro (lagarto corredor), o barionix ( garra pesada), o troodonte (dentes que rasgam) e  similares, terríveis predadores.

Temos também os  bichos  chamados, pelos aficcionados, maravilhas aladas, grandes e violentos  répteis voadores, que apareceram há mais  de 240 milhões de anos. A primeira evidência de criaturas pré-históricas emplumadas surgiu na Alemanha, em 1861. Nessa categoria temos o arqueópterix, o pterossauro, o pteranodonte, o pterodáctilo e, no final do período jurássico, o batrachognathus, com mandíbula de sapo.

Na terra e no ar, havia dinossauros assustadores. Mas no mar? Você já ouviu falar em dinossauros marítimos, oceânicos? Sim, eles existiram. Este pobre cronista não está delirando, nestes tempos de pandemia, enfurnado em casa, com medo da tal covid-19, do tal coronavírus que assola o mundo.

Há alguns anos, pesquisadores brasileiros apresentaram  fósseis de uma espécie de crocodilo marinho do período paleoceno, isto é, que viveu  entre 55 milhões e 65 milhões de anos atrás. É muita era.  A apresentação dos cientistas se deu no Museu  Nacional  da UFRJ, no Rio, aquele que um recente incêndio quase destruiu totalmente.

Foi a primeira vez que um fóssil do grupo dyrosauridae   (dirossaurídeos) foi descoberto na nossa América do Sul de forma tão completa, com crâneo, mandíbula e vértebras. O bichão, de três metros de comprimento, foi nominado  como guarinisuchus munizi e viveu  no Brasil, vindo da África , quando os dois continentes formavam uma só estrutura, nos  tempos  da Pangea.

A bocarra do monstro dá medo: esse grande predador  dos mares  se alimentava de grandes peixes. Apesar de ter resistido aos fenômenos astronômicos  assombrosos que  extinguiram  os  dinossauros, o animal marinho sucumbiu  – dizem os estudiosos- aos ataques de formidáveis tubarões. Esse  crocodilo pré-histórico, jurássico, viveu no Nordeste brasileiro há 60 milhões de anos.

O paleontólogo José Antônio Barbosa, da UFPE, afirmou na época que havia indícios de que esses animais estiveram em nosso continente, pois se encontraram fragmentos  na Colômbia e na Bolívia. Mas só depois o fato efetivamente se comprovou. Esses bichões dinossáuricos nada têm a ver com o crocodilo  de nossos tempos, pois sempre tiveram  hábitos  exclusivamente marítimos. Não são animais, portanto, como os do Pantanal matogrossense.

No  Brasil, os dinossauros do mar  viviam  no litoral da Paraíba, Pernambuco e Ceará. A pesquisa tornou-se possível  graças a uma parceria entre a UFPE, o Museu Nacional e a Universidade Estadual do Vale do Acaraú – UVA, no Ceará. O estudo foi divulgado na edição on-line  da revista científica “Proceeding of the  Royal Society B”.

O jacarezão pré-histórico marinho  foi revelado, portanto, graças ao trabalho  de cientistas brasileiros. Assim, pois, tivemos dinossauros em terra, no ar e no mar. Terramarear.

O tema é fascinante e não sai da cabeça dos humanos. Ganhou a literatura  e o cinema, as salas de exposições nos museus e nos shoppings centers. Esse tema inspirou o escritor hondurenho Augusto Monterroso -(1921-2003)   a escrever o microconto mais famoso do mundo, nestes termos: “Quando acordou, o dinossauro ainda  estava lá.” Esse  microconto é “um fenômeno de brevidade e concisão”,  pontuou  Ubiratan  Brasil em “O Estado de S. Paulo”, de 5-7-2014.

Vou encerrar esta jurássica digressão dizendo que, por duas vezes, uma delas com minha filha então solteira, fui ao Museu do Dinossauro, em Peirópolis, distrito de Uberaba, onde, na praça,  há um gigantesco dinossauro de cimento, debaixo do qual os turistas são fotografados. O local  está situado no Vale dos Dinossauros. Pessoas mais sensíveis e algo místicas  ali fecham os olhos, meditam , sentem arrepios e dizem que é possível até  se ouvir, ao longe, difusos, longínquos  sons de bramidos das feras pré-históricas. Mas deve ser exagero dessa gente…Ou essa gente anda  bebendo em demasia…