Como presente de aniversário, recebi o exemplar de “Sob o céu de Belo Horizonte”, em cujas quase 250 páginas, Pedro Rogério Couto Moreira conta fragmentos da vida da capital, principalmente nos anos 40, 50 e 60 do século que ficou para trás.

            Trata-se de obra cuja leitura não se deve nem se pode adiar, por muitos e justificáveis motivos. Editada pela Thesaurus (que sabe prestigiar os bons autores), aguarda o término desta terrível pandemia de coronavírus em 2020 para lançamento oficial.

Estou certo de que o adiamento será precioso incentivo no interesse do leitor pelo conteúdo, e pelo especial sabor que imprime Pedro Rogério a seus escritos. Liminarmente, diria tratar-se de uma descrição bem-humorada dos seus 21 anos de vida na amorável casa do pai, saudoso escritor Vivaldi Moreira, no número 600 da rua Professor Morais, antiga Paraibuna, a do Canal, no Funcionários. A residência não existe mais, nem nenhuma outra no trecho, pois cederam lugar a luxuoso hotel. Mas ficaram, felizmente, as lembranças daquela época, do local, da vizinhança e tantos outros etcéteras. São eles exatamente que dão calor ao livro, acrescentando recordações e informações.

Filho de sábio escritor e incomparável leitor, o confrade acadêmico na AML alimentou-se certamente na farta biblioteca do pai. Teve muita sorte. Assim, leu, além de muitas preciosidades outras, “A Capital”, de Avelino Fóscolo (emprestei meu exemplar, não devolvido); “O Cabo das Tormentas”, de Eduardo Frieiro; “João Ternura”, de Aníbal Machado; “Meu Fabulário Infantil”, de Euryalo Cannabrava; “Baú de Ossos”, de Pedro Nava; “Serra do Curral”, de Sylvio Miraglia; “Memórias de um Chauffer de Praça”, de Moacyr Andrade; além dos mais recentes, como “O Encontro Marcado”, de Fernando Sabino; “Hilda Furacão”, de Roberto Drumond; “Prisioneiro do Círculo”, de Ricardo Gontijo; e “Juventude, Juventude”, de Odin Andrade, além de recorrer a suas próprias reminiscências e muitos mais bons  autores.

Mas não se pode deixar de realçar a importância que Pedro Rogério dá a “O amanuense Elmiro”, de Cyro dos Anjos, nascido em Montes Claros, e colaborador precioso de Benedito Valadares, governador. Mas o tom de “Sob o céu” é o da capital desde o seu primórdio, dos bons autores mencionados, que souberam amar Belo Horizonte e em Belo Horizonte.  Porque o verbo é conjugado em todos os modos e tempos.

A numerosa gente que veio para cá para construir a cidade merece carinho, como a de procedência italiana, a comunidade católica, os adeptos do futebol, os fundadores dos clubes sociais, os empresários, como o judeu que instalou a Casa Arthur Haas, onde se encontra até hoje,  ou a Salles, de Armas, na São Paulo com Caetés. Mas se recorda o Cine Grátis, o Maria das Tranças, o restaurante térreo do Automóvel Clube com Pedro Aleixo e Milton Campos na chegada da noite, a Pampulha e a gafieira Elite, o Cine Glória, enfim, a cidade inteira – dos céus e da terra, com fatos e acontecimentos. Juscelino, Milton, Djalma Andrade, festas e suicídios, as reuniões dos rapazes na Mansão Vivacqua, a que compareciam Drumond, o de Itabira, Milton Campos, e toda a flor das artes, das letras e do pensamento. Pedro conhece as coisas e sabe contá-las.