O tempo, indiferente às nossas inquietações e fragilidades, caminha inexorável, sem parar. Minuto depois de minuto; hora que sucede a hora; entra semana, sai semana; quando a gente assusta, mais um ano se encerra. Os livros de História nos ensinam sobre a brevidade das décadas, dos séculos, dos milênios…

Estamos fechando 2019. Juntos às festas do fim de ano celebramos o Natal – o nascimento de Jesus.

Muitas vezes as correrias e demandas do ano que se encerra impedem uma reflexão mais profunda sobre a belíssima data da tradição cristã. Nas palavras de Frederico Lourenço, o notável tradutor dos textos bíblicos editados pela Companhia das Letras, especialmente os quatro Evangelhos no contexto do Novo Testamento: “… tanto crentes como não crentes andaremos com Jesus na nossa cabeça, enquanto houver seres humanos na Terra (…) a mensagem de Jesus continua hoje tão válida, tão certeira e tão urgente como era há 2 mil anos”

Penso que todas as pessoas humanas comprometidas com os valores éticos referentes à respeitosa convivência social, ao bem comum, à justiça, à preservação dos bens e valores essenciais à vida individual, familiar e comunitária, devem dar um tempo e refletir sobre esse Personagem que se renova através dos tempos.

Seus ensinamentos são permanentes, imutáveis, mas ganham novas leituras e possibilidades acompanhando o avanço das ciências e do conhecimento – a hermenêutica, a antropologia, a psicanálise, a sociologia, os novos horizontes que se abrem à filosofia e à própria teologia. Jesus percorre com as sandálias do bem, do amor e da justiça os caminhos da História. Fala com força e profundidade aos tempos difíceis que vivemos, tempos marcados pela violência, pelas injustiças sociais crescentes, pelas agressões à natureza e às fontes da vida – o ar, a terra, as águas, a biodiversidade. Tempos de crescente servidão ao dinheiro, aos bens materiais, de adoração ao bezerro de ouro.

Temos as passagens evangélicas que são mais divulgadas e que bem falam aos nossos tempos e, particularmente, nesses tempos natalinos: o sermão na montanha (Mateus, 5,1-48); a parábola do semeador (Mateus, 13, 1-23); o jovem rico (Mateus, 19, 16-22); o juízo final (Mateus, 25, 31-46); as bem-aventuranças (Lucas, 6, 20-49); o bom samaritano (Lucas, 10, 25-37); o filho pródigo (Lucas, 15, 11-32); o homem rico (Lucas, 18, 18-25); a mulher adúltera (João, 8, 1-11). Em todos os evangelistas, encontramos a passagem esplêndida da multiplicação dos pães e peixes.

Opto neste texto de felicitações pela passagem do aniversário de Jesus, por resgatar algumas passagens mais curtas e menos divulgadas:

“Por que miras o cisco no olho do teu irmão e não te dás conta da trave que está no teu? Ou como dirás ao teu irmão: Deixa que eu te tire o cisco do olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás melhor para tirares o cisco do olho do teu irmão” (Mateus, 7, 3-5).

“Tudo quanto quiserdes que vos façam as pessoas, assim fazei vós a elas. Pois esta é a lei e os profetas” (Mateus, 7,12).

“Aproximando-se então, Pedro disse-lhe: “Senhor, quantas vezes errará contra mim o meu irmão e o perdoarei? Até sete vezes? Diz-lhe Jesus: “Não te digo para perdoares até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus, 18, 21-22).

“Sabeis que os príncipes dos pagãos são prepotentes com eles e que também os grandes abusam do seu poder. Não será assim convosco. Mas quem quiser ser grande entre vós será vosso criado, e quem quiser ser o primeiro entre vós será o vosso escravo, tal como o Filho da Humanidade que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos” (Mateus, 20, 24-28).

“Pois no que fica beneficiada uma pessoa que ganhou o mundo inteiro, mas ao mesmo tempo se perde e se destrói a si própria” (Lucas, 9, 25).

“Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque a vida de alguém não consiste na abundância de suas posses” (Lucas, 12, 15).

“Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria se complete. Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, tal como vos
amei” (João, 15, 11-12).

Bom mesmo é a leitura dos textos evangélicos na íntegra. Ler com atenção, pensar sobre como impactam nossa vida e nossas comunidades, e depois nos esforçamos para pôr em prática os seus ensinamentos. E nos tornarmos cada vez mais mensageiros do amor e construtores da paz.

Abraço a todas e todos, desejando-lhes, desejando-nos um Feliz Natal. Que Jesus nasça em nossos corações.

Por Patrus Ananias, membro da Academia Mineira de Letras, ocupante da cadeira n° 39.